Mostrando postagens com marcador Evangelho. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Evangelho. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O dia que me tornei "um desses pequeninos" (2)

        No último post falei sobre como me descobri um dos pequeninos, ontem, fui novamente inserida no Evangelho, tornando-me como Bartimeu, o cego. Esse pequenino que era desprezado, deixado “a beira do caminho”, com suas deficiências e dificuldades. Ao escutar o Evangelho, já consegui “entrar” na história, ver a situação com o olhar da fé, e me colocar na situação daquele pequeno. Conforme o padre realizada a bela homilia, todo o acontecimento bíblico foi se misturando a minha vida.
         A atual situação do meu coração faz-me estar como que cega, a beira do caminho, sem enxergar futuro e sem conseguir dar um passo. Mas assim como Bartimeu, estar à beira do caminho é ter esperança, saber que nada está perdido, mas que aguarda o socorro chegar. Se a esperança houvesse se dissipado, Bartimeu já estaria escondido, tendo desistido de viver. A esperança é o que o mantêm; a esperança é o que me mantém. Estamos à beira do caminho por não sentirmos pertencentes a nenhum grupo, como que isolados com nossa dor, com nossa deficiência.




         E aí eis que surge uma multidão de vozes, difícil reconhecer do que se trata, provavelmente ouvimos alguém contar sobre Jesus, seus milagres, seu poder. O que os olhos não podem ver, a alma pode, reconhece seu dono, o Senhor da sua vida, Aquele que pode tirar daquela situação. O medo talvez pudesse ter nos calado, mas ao vencê-lo, nos pusemos a gritar, a proclamar: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!” Talvez meio tímido, mas o suficiente para que muitos ouçam. Pessoas que apesar de seguir Jesus, ainda não reconheceram na sua alma quem Ele o é; ainda não fizeram a experiência de deixar a vida ser transformada por Cristo; ou como o padre disse na homilia, pessoas que ao querer que Jesus leve a Boa Nova para alguns, esquece que a Boa Nova é para TODOS, sem exceção. Qualquer que seja o motivo, mandam-nos calar, como se a nossa dor não importasse, não prestam atenção nas dores que sentimos, na nossa história, enfim, a insensibilidade dói mais que o que antes nos feria, mais do que a cegueira. Bartimeu e eu lembramos o porquê estamos à beira do caminho, porque as pessoas não sabem mais acolher a dor e a cegueira, preferem excluir e ficar somente entre aqueles que “são perfeitos”.
         Novamente isso poderia ter calado a ele e a mim. Confesso nessa parte que Bartimeu precisou apenas de uma chance para ter a coragem de gritar mais forte ainda. E eu já tive tantas e não aproveitei... Enfim... A coragem venceu o medo e a vergonha e ambos gritamos ainda mais forte: “FILHO DE DAVI, TEM PIEDADE DE MIM!” Novamente digo, o coração reconhece seu Dono, seu Amado, mesmo ferido pelos erros e pecados.
         Jesus já sabia de tudo isso, de todo o coração de Bartimeu, como sabe desse coração aqui. Ele já havia escutado desde a primeira vez que chamamos, mas Jesus espera que alguém se coloque a disposição, confiando que aqueles que estão próximos a Ele já aprenderam a acolher e amar os pequeninos. Quando vê que não é bem assim, Ele mesmo se pronuncia a alguém: “chame-o”. O convite é feito a alguém que Jesus sabe que não irá nos abandonar, que chegará até nós e dirá: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama”.
         Aqui nesse ponto quero me estender mais do que já tenho me expressado aqui. Sempre haverá alguém para fazer esse papel de “chamador”, de “encorajador”. É o bom samaritano, com outro nome, mas aquele que estará lá sempre dizendo: “coragem; não desista; sei que Jesus tudo pode; nada é impossível para Ele; isso vai passar; confie; levanta-te; vá ao encontro Dele, conte seus problemas, mesmo Ele já sabendo tudo”. É aquela pessoa que realmente deixou Deus se encarnar na sua vida, fazer morada no seu coração. É o que muitos chamam de anjo, pessoas enviadas por Deus para ser luz na escuridão e mão segura a guiar quando nós mesmos não enxergamos o caminho.
         Ao ser encorajado, ao nos sentirmos amados, temos a coragem para dar um salto – mesmo que pareça engraçado um cego dar um salto – confiando que não vamos cair, porque há alguém ao nosso lado. Temos a coragem de “jogar o manto”, ou seja, deixar para trás a vergonha, o pecado, a dor, a indiferença que cobria nosso coração. E o mais importante, temos a coragem de caminhar até Jesus.
         Se o coração de Bartimeu ficou como o meu durante a homilia, ele também sentiu o coração bater mais rápido, as lágrimas caírem, a esperança se fortificar – lembra que ela nunca havia ido embora? – ao se aproximar de Jesus Cristo.
         E por óbvio que pareça, por mais que Jesus já saiba o que queremos, Ele questiona: “o que queres que eu faça?”. Ele não questiona porque acha que vamos pedir algo diferente, mas porque sabe que é preciso que tenhamos a coragem de dizer o que ainda nos falta, o que nos fere. Assim como Bartimeu, meu pedido é: “Mestre, que eu veja!” Que eu veja a dor como sinal de amor, de crescimento, de caminhada, que eu veja o que precisa ser revisto em minha vida, o que preciso mudar, o que posso fazer para seguir Jesus de forma corajosa e fiel.
         “Vai, a tua fé te curou!” Fé que nos faz sair do lugar, do comodismo, da “beira do caminho”. Fé que nos impulsiona a seguir o Amado, o Mestre e Senhor da nossa vida.
         Gratidão a Deus por ter dado em minha vida mais pessoas me dizendo “Coragem!” que pessoas me mandando calar, ou melhor, por fazer que as pessoas que me dizem “Coragem!” sejam mais ouvidas por mim, no hoje! E gratidão a Deus também, pela graça de utilizar a homilia de ontem para tocar meu coração, para que o Evangelho se encarnasse em mim e virasse vida e texto.


Que Deus abençoe cada um de nós, pequenos!

Michele Cristina

domingo, 26 de julho de 2015

Pães e Peixes na minha Vida

         A partilha hoje é breve, fruto de um tempo conturbado mas produtivo.
         Prometi que haveriam mais posts aqui no blog, e como podem perceber, parei mais uma vez, sem conseguir cumprir o prometido. Os motivos foram muitos, desde doença até a correria do trabalho e da vida. 
        O que acontece é que quando algo não vai bem em mim, seja no físico, no emocional ou no espiritual, isso reflete na minha capacidade de escrever. Não sei escrever sem deixar um pouco da minha essência escorrer entre as palavras, e essa essência quase desaparece quando estou passando pelas "turbulências da vida". 
         Nada disso deveria ser desculpa para as coisas que faço. mas, felizmente, eu acho, não consigo separar o que sou do que escrevo. Quem me conhece sabe muito bem descobrir meus sentimentos através do que escrevo. Né Irmã Eliete? rsrsrs
         O que tirei de "lição" desses dias, é que ainda me falta muito confiar na Providência Divina. Ainda falta muito para meu abandono ser real, para que eu saiba passar por tudo confiando que Deus vai agir, e descansar. 
         No Evangelho da multiplicação dos pães (o Evangelho desse domingo, o 17º do Tempo Comum), Jesus nos mostra 2 atitudes que temos diante das dificuldades. Quando constatou que havia uma multidão e que precisava alimentá-los, se depara com o cálculo frio do apóstolo que pensa em quanto gastaria financeiramente para alimentar a multidão. Quantas vezes já decretamos como impossível algo porque pensando friamente descobrimos que exigiria mais do que nós somos capazes?
         A segunda atitude vem com o outro apóstolo, que apresenta o fato de que há um menino que têm pães e peixes, mas deixa-se vencer pelo desanimo ao acreditar que não conseguiria alimentar a multidão com somente aquilo. Quantas vezes nós até vemos uma possível solução, mas nos desmotivamos por pensar que nosso problema é maior do que a solução?
         E por fim Jesus nos mostra a confiança e a prudência do menino. Ele não esperou que os pães caíssem do céu, mas garantiu sua alimentação naquele período. Ele nos ensina que confiar em Deus não é "cruzar os braços" e esperar que Deus faça tudo, mas confiar que, se faço a minha parte, Deus cuida do restante. O menino nos ensina também que o abandono em Cristo significa entregar o que temos de mais precioso, aquilo que pode salvar nossa vida (lembremos que o menino poderia negar de entregar os pães e os peixes, alegando que eram para sua sobrevivência). Ele confia tanto na Providência Divina que sabe que Jesus jamais o deixaria perecer e assim doa o seu pouco acreditando que o Filho de Deus transformaria em muito.
         Confiar na Providência Divina não é fácil... Nossa fraqueza insiste em nos conduzir ao individualismo, ao querer resolver tudo com "as próprias mãos", se esquecendo que Jesus é o Deus do impossível. 
         Quem eu quero ser dentro das 3 opções que o Evangelho propõe? Quem eu tenho sido?

Que Deus nos abençoe!
Michele Cristina

sábado, 20 de junho de 2015

O Semeador e a pequena semente

         Não sei se já aconteceu com alguém aqui, mas sabe quando você acorda com um trecho de uma música fixa na sua cabeça? Então, foi o que ocorreu comigo na manhã de domingo. Foi como se o que tivesse me despertado tivesse sido justamente esse trecho: "Se Eu não te enxertar em Mim, sua busca não terá fim..."
         Pra quem não conhece, é um trecho da música "Sementes" do Dunga. Bom, eu acordei e fiquei com essa música martelando minha cabeça. Lembrei do restante e isso me fez rezar mesmo sem perceber.
Qual foi a minha surpresa quando na Santa Missa o Evangelho era justamente a passagem do "semeador"! Nossa, lembrei na hora do ocorrido de manhã. Ainda pra completar, o casal de músicos que animava a Missa, tocou uma das músicas da minha primeira comunhão. Aí sim, a lança foi fincada com força nesse peito bobo. 
         Fiquei querendo descobrir o que Deus quis dizer a mim diante disso tudo. Eu sei... É o trecho da música que precede o que me acordou... "Tenho visto você procurar um lugar pra se encaixar, percebo que não consegue ser feliz. Se Eu não te enxertar em mim sua busca não terá fim."
         Não vou dizer que estou infeliz, ao contrário, tenho me sentido feliz com a minha vida. Porém, ainda não é a felicidade que o Senhor sonhou pra mim. Sei que é complicado pra muitos entenderem isso, e pra mim também é um pouco, mas vou tentar explicar. Deus nos chama a uma felicidade plena, mesmo com tribulações. Quando encontrarmos essa felicidade, nem mesmo os problemas e as situações poderão nos abalar. Agora, Deus é tão bom que mesmo antes de encontrarmos essa felicidade, Ele nos deixa experimentar dela em diversos momentos. Mas esses momentos passam e aquela sensação de "ainda não achei meu lugar" fica.
         Às vezes é falta de achar o lugar mesmo, porém muitas vezes é falta de abandono, de se entregar a Deus. Ele, que é o semeador, sabe em qual solo daremos mais frutos, seremos mais completos. Mas mesmo que estejamos no "lugar" certo ainda vai faltar algo, vai faltar que nos deixemos enxertar no coração de Cristo, que busquemos tirar as ervas daninhas que sufocam nossa semente.
         E é nesse sentido que venho dizer... Se eu não deixar Deus me enxertar nele, posso passar a vida toda atrás da felicidade que não a encontrarei.
         Durante essa semana fiquei pensando nisso e ontem (sexta) me confessei com o propósito de deixar meu coração nas mãos de Deus para que Ele me plante onde for melhor. É esse o meu maior desejo, ser uma pequena semente nas mãos do meu Semeador.
         E o seu desejo, qual é? Sua semente já está nas mãos do Semeador?

Que Deus nos abençoe
Michele Cristina

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Entrega total de si

     Nessa semana após Pentecostes, as leituras me fizeram refletir muito. São passagens que nos levam a repensar como está nossa relação com o Senhor. Até Pentecostes as leituras nos preparavam para a grande descida do Espírito Santo, onde realmente começa a missão dos Apóstolos. Para nós esse tempo também é o momento de renovarmos o nosso SIM, a nossa entrega. As leituras do início da semana nos falam das renúncias que são necessárias e que apegos não são bem vindos quando se trata de seguir o Senhor. Quantas vezes pensamos seguir tudo o que nos pede a Igreja, mas esquecemos que nosso coração é apegado ao dinheiro, aos bens, às pessoas. Somos como o jovem que aparece no Evangelho de Marcos (10, 17-27), queremos seguir Jesus, mas não queremos deixar tudo para trás. O problema não está em ter bens, mas em amar mais esses bens que ao Senhor a ponto de colocar empecilhos no seu seguimento.
        Outro ponto importante dos Evangelhos dessa semana está em que não podemos servir querendo recompensa. A livre entrega consiste em tudo dar em nada esperar em troca, nem bens, nem glória, nem fama, nem amigos, nem nada em recompensa. É ter a certeza que a vida será de lutas, perseguições e conquistas, mas tudo isso para a glória de Deus. A doação total de si mesmo é o maior ato de amor que podemos ter com Jesus. “Deixamos tudo e te seguimos” (Mc 10, 28-31), nada é nosso, a nada somos apegados, diferente do exemplo do parágrafo anterior. Porém, nada adianta tudo deixar se esperamos recompensa.
         É o que Tiago e João queriam (Mc 10, 32-45), o melhor lugar no Reino dos Céus, pois aqui na terra serviram ao Filho de Deus. Jesus é claro ao dizer que ser servo é a atitude que os seus seguidores devem ter. Servir, amar, se doar pelo irmão, por aquele que necessita de nós. E a recompensa? Um verdadeiro servo não busca recompensa, mas somente agradar o Senhor.
           Só podemos ter essa doação total, essa vida de servidão, se tivermos uma fé sólida, firme, como a de Bartimeu (Mc 10, 46-52). Diferente do que muitos de nós fazemos, que ficamos a “beira do caminho”, cruzando nossos braços e esperando que Jesus venha curar nossas feridas, Bartimeu foi audacioso, corajoso e não deixou de acreditar que, se suplicasse, Jesus o atenderia. Sua fé foi tanta que ele não pediu ao Cristo um “trocadinho”, um pouco de comida ou uma bengala, mas sim sua cura, “que eu veja”. Quantas vezes deixamos que nossos apegos nos ceguem, nos deixem sentados, sem ver o Senhor passar, sem confiar o suficiente para deixarmos tudo?
            Quando ficamos como que cegos, acabamos deixando morrer a fé em nós, pois os apegos e as seduções do mundo acabam por nos impedir de dar frutos. Quais são os frutos que o Senhor espera de nós? Como temos correspondido? Será que somos como essa figueira (Mc 11, 11-26) que por não produzir mais frutos, por não ter mais vida, seca e se destrói ou somos como o Bartimeu, que sabia da sua pequenez, das suas limitações, mas resolveu depositar tudo o que tinha nas mãos do Senhor, confiando que Ele faria o que fosse o melhor? Como está nossa relação com os apegos, com os bens materiais? Será que amamos a Cristo mais que às coisas e às pessoas ou para Jesus só sobra aquilo que não me pesa, não me custa?

            Rogo ao Senhor que faça o meu e o seu coração um coração totalmente livre. Livre para se doar naquilo que for o Chamado de Deus na minha e na sua vida.

Que Deus nos abençoe!
Michi Cristina