Meus
dedos anseiam por escrever algo que dentro do meu coração parece não mais
encontrar espaço. Mas são tantos os sentimentos e pensamentos que brotam que me
parece ser impossível alinhá-los de forma coerente. Deus tem feito a semente
germinar dentro desse coração duro, tantas vezes como o terreno pedregoso que
fala no Evangelho, mas que quer, na sua simplicidade, ser terreno fértil para
ver brotar e frutificar tudo que de bom recebeu das mãos do Semeador. Aos
poucos vou aprendendo e conseguindo tirar uma pedra ou outra para tornar o
terreno do meu coração mais habitável. Por vezes, Deus manda outros jardineiros
para me ajudar, pois sabe que na minha pequenez, desistiria se não houvesse
quem cuidasse do jardim por mim, vez ou outra. É bonito pensar em quantas sementes
são lançadas sem que eu veja, quantas já nasceram comigo e quantas florescem
tão delicadamente que só com olhar atento consigo perceber a sua existência. E
em cada uma delas vejo o amor e a bondade de Deus, que me escolheu e me amou
antes e mais do que qualquer um. Os dons que me deu, os caminhos pelos quais me
enviou, tudo faz parte desse cultivo do jardim do meu coração. Faz-me lembrar
um trecho de uma música: “Deus me entregou bem mais do que mereço, talvez seja
por isso que eu me cobre um pouco mais.” Sim, a cobrança pode ser algo
positivo, quando nos leva a ser melhores, a querer ser mais pelo Tudo. E essa
busca por ser melhor é justamente a busca de dar bons frutos ao Dono do jardim.
Frutos esses que, se já foram colhidos pelo Jardineiro, estão espalhados nos
mais diversos cantos, talvez semeando outros corações também. De qualquer
maneira esses frutos não me pertencem, mas sim Àquele que os semeou.
"A
dignidade de pertencer a Deus nos obriga, por natureza, a ser diferentes"
(Beato João Paulo II)
Dizer
que queremos ser terrenos férteis é dizer que queremos ser santos. E para isso
é preciso estar atento ao que o Evangelho nos diz, para não deixarmos nosso
coração endurecer diante das “belezas” que o mundo nos apresenta. Ser santo não
é ser como as imagens que vemos nas igrejas. Elas representam algo muito maior.
Nos recordam pessoas que tiveram a coragem de limpar seu terreno, de torná-lo
fértil, mesmo em meio a tantas vozes contrárias. Ser santo não é coisa para
poucos, é uma vocação de todos nós. E, como vocação é chamado, cabe a nós
respondermos dignamente a Deus. Se pertencemos a Deus temos que desejar ser
diferente, ser melhor a cada dia, a cada novo amanhecer. E, por mais que não
percebamos, esse desejo por ser diferente grita dentro de nós. Nosso coração
anseia por pertencer totalmente a Deus, a ser livre para se aprisionar no seu
Criador. Por vezes calamos esse desejo com nossos apegos, medos, pecados e
inseguranças. Por vezes nos dizemos livres, donos do nosso nariz, mas estamos
totalmente presos em nós mesmos, nas nossas vontades, sujando e cercando o
terreno do nosso coração, deixando o Semeador de fora. De terreno fértil
passamos a terreno baldio, onde o mundo joga seu lixo. É preciso coragem para
limpar o terreno do nosso coração para que nele Deus possa semear as mais belas
coisas. É preciso aprender a desapegar, a se abandonar, a renunciar as próprias
vontades para deixar que as vontades de Deus sejam manifestadas. É preciso ter
a firme decisão de ser totalmente entregue a Deus. E não pense que isso é coisa
para freira e padre. É decisão de todo cristão, de todo aquele que ama
verdadeiramente a Deus. É preciso que Deus seja o centro e o primeiro em toda
nossa vida, seja de casado, solteiro ou celibatário. Todos somos chamados a ser
terrenos férteis, a dar a vida por Deus, a deixá-lo nos semear com as mais
belas coisas, com os mais belos sonhos que nascem de seu divino coração.
Limpemos nosso terreno, sejamos terrenos férteis.
Com carinho
e orações,
Michele
Cristina Pacheco
Escrava
inútil de Jesus por Maria
06 de abril
de 2014
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